Azar, má sorte, mal agouro… não importa o nome. Há quem diga que tudo isso tem data certa para acontecer: a temida sexta-feira 13. A data acontece ao menos uma vez por ano e ainda é vista com um certo mistério no ocidente, amedrontando os mais supersticiosos.
Thiago Saltarelli, professor de Linguística Histórica e Literatura Medieval, da Faculdade de Letras da UFMG, conta que existe até mesmo um nome para quem tem pavor da data: parascavedecatriafobia. O termo é formado a partir de três palavras gregas: parascave (sexta-feira); deca (dez) e tria (três), que juntas formam o número 13; e fobia (medo ou pavor).
Mas quando as pessoas começaram a ter medo da data? Saltarelli diz que não dá para definir com certeza uma origem ou causa específica da superstição, mas historiadores levantam algumas hipóteses.
A desarmonia do número 13
“A princípio existem duas coisas distintas: o número 13 e a sexta-feira, que depois vão se unir”, afirma o professor. No caso do 13, Saltarelli explica que ele é considerado um número que quebra a harmonia perfeita do cosmos (formada pelo número 12, considerado o número perfeito).
“A própria concepção matemática, cosmológica e astrológica de várias culturas do mundo antigo têm a ideia de que o 12 é um número de perfeição, de harmonia. A gente pega vários calendários de culturas antigas e eles têm um sistema duo decimal, dividido em 12. É um número que aparece em uma série de experiências, mas sempre com esse significado de harmonia cósmica. São 12 meses do ano, 12 signos do zodíaco, 12 filhos de Jacó, 12 fundadores da tribo de Israel, 12 apóstolos de Jesus Cristo, a contagem das horas… Seja de referências antigas ou coisas da nossa vida atual, a gente tem essa ideia do 12 como o número perfeito”, afirma.
Dessa forma, como o 13 é um acréscimo ao número perfeito, ele carrega uma sensação de desarmonia e, consequentemente, de mal agouro. “É como se ele despertasse os eventos ruins, justamente porque fugiram do equilíbrio cósmico”.
Como exemplos da desarmonia do número 13, Saltarelli cita a própria bíblia. “A principal narrativa sobre o número 13 é relacionada à Sexta-feira da Paixão. Nós temos a Quinta-feira Santa, na qual estavam presentes 13 pessoas: Jesus, 11 apóstolos e Judas Iscariotes, que é o traidor. Então, a traição é do 13º elemento, que vai provocar a morte do centro de referência, Jesus Cristo. Aí já temos essa alusão do número 13 provocando essa desarmonia”, pontua.
Por que sexta-feira?
Entre os motivos pelos quais a sexta-feira ganhou a má-fama está a própria morte de Jesus Cristo. “A gente tem essa questão do número 13 na Santa Ceia, na Quinta-feira Santa. E a grande tem a tragédia que isso vai gerar: a crucificação de Jesus, que se deu numa sexta-feira. De acordo com a com a narrativa bíblica, com isso, a sexta-feira virou o dia da morte, da crucificação de Cristo. Aí ela começa a ganhar essa conotação de ser um dia ruim, trágico e pesado”, explica o professor.
Assim, se juntar a sexta-feira, que já leva a fama de ser um dia ruim, com o número 13, conhecido pela desarmonia, a conotação da data fica ainda pior. Tudo isso fez com que a sexta-feira 13 passasse a ser sinônimo de azar há séculos.
Tema de filme de terror, cultura pop resgatou simbologia da data
Quando falamos da simbologia da sexta-feira 13 na contemporaneidade é importante lembrar do papel da cultura pop ao alimentar a conotação negativa da data.
“Isso ganha muita força no século 20, a partir do final da década de 1980, com as franquias de filmes de terror. A gente tem a franquia do Halloween e a principal, a franquia “Sexta-feira 13″, do personagem Jason. Elas ajudaram bastante a alimentar o imaginário popular com essa noção de terror em relação a sexta-feira 13. Ou seja, os filmes também alimentam essa crença e mito em torno da data”, pontua Saltarelli.