‘Pedaço de mim’: série da Netflix com Juliana Paes tem gêmeos de pais diferentes; entenda

Nesta sexta-feira (5), estreia a série ‘Pedaço de mim’ da Netflix. A atriz Juliana Paes estrela a produção que aborda a superfecundação heteroparental ou gravidez de gêmeos de pais diferentes.

A novelista Angela Chaves se inspirou em um caso real para criar a história que promete provocar reflexões e polêmica. Esta será a primeira série brasileira de melodrama da Netflix, e conta também com Vladimir Brichta e Felipe Abib, bem como Paloma Duarte, como a obstetra Silvia, e João Vitti, o médico Vicente, que descobre a gravidez heteroparental de Liana.

O que é superfecundação heteroparental?

De acordo com a ginecologista e professora da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais (CMMG) Rivia Lamaita, esse tipo de gestação acontece quando dois óvulos da mulher, no mesmo ciclo menstrual, são fecundados em duas relações sexuais, com parceiros diferentes.

Ela explica que há dois tipos de gestação gemelar. Na monozigótica, um óvulo é fecundado por um espermatozoide, formando um embrião que se divide e gera produtos conceptuais com carga genética idêntica (mesmo sexo e mesma carga genética). Já na dizigótica, no momento da ovulação, são expelidos dois óvulos em vez de um, e ambos são fecundados. Nesse caso, os zigotos resultantes dão origem a gêmeos dizigóticos, ou seja, gêmeos fraternos, com carga genética diferente. Eles podem também ser de sexos diferentes.

Ainda de acordo com a ginecologista, a superfecundação heteroparental, quando a fecundação ocorre por parceiros diferentes, só pode acontecer em gestações dizigóticas, aquelas em que há dois óvulos. “Pode acontecer de a mulher ter ovulado de dois óvulos e ter relações simultâneas com mais de um parceiro sexual. Assim, gera gêmeos com pais diferentes”, explica.

A professora da UFMG falou ainda sobre a possibilidade de um caso ainda mais raro, quando acontece a ovulação de mais de dois óvulos. “Se houver a ovulação de mais de dois óvulos, o que seria mais raro ainda, poderia ter divergência de paternidade em qualquer um dos fetos.”

Caso no Brasil

Em 2022, um caso de superfecundação heteroparental aconteceu na cidade de Mineiros, no sudoeste de Goiás, quando uma jovem de 19 anos teve dois meninos gêmeos de pais diferentes. A mulher se relacionou com dois homens no mesmo dia e engravidou dos dois. Conforme a Rivia Lamaita, nesse caso, a única forma de confirmar a paternidade é pelo exame de DNA. “Se não houver solicitação da confirmação de paternidade pelo exame de DNA, o registro de paternidade será dado ao companheiro escolhido pela paciente.”

Série é baseada em história real

Segundo a autora Angela Chaves, a inspiração para a história veio de um caso real e raro.

“Li em um jornal a notícia de que uma americana teve filhos gêmeos de pais diferentes há bastante tempo e guardei essa história no meu baú. Gosto de ter um baú de histórias com recortes de jornais, o que hoje em dia já virou arquivo de computadores”, disse ela. “Essa história é um drama cotidiano, uma história de família. É um drama familiar que poderia acontecer com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo. Mas ela parte de um acontecimento incomum, quase extraordinário, o qual é a gravidez gemelar de pais diferentes. Acho que esse é o grande interesse, o fator mais instigante. A partir de um fato quase extraordinário, pensar: “e se acontecesse comigo, e se acontecesse com você, e se acontecesse com qualquer pessoa, como eu lidaria com essa situação?”, explicou ela ao jornal O Globo.

A atriz Juliana Paes, de 45 anos, mãe de dois filhos — Pedro, de 13 anos, e Antônio, de 10 —, frutos do casamento com o empresário Carlos Eduardo Baptista, também falou sobre o assunto e de como vê a história.

“Até hoje, não sei o que eu faria no lugar da Liana. Talvez eu tivesse abortado. Acho que, na minha cabeça, seria a opção mais viável. Mas não sei” diz a atriz. A trama tangecia uma questão da vida real, com a discussão do PL antiaborto, já que uma das gestações da personagem é fruto de um abuso. No entanto, o aborto de apenas um feto, neste caso, é impossível, como dito na própria série.

“Está sendo necessário que se discuta isso, está sendo necessário falar que é um debate de saúde pública, que precisamos deixar religiosidade um pouquinho de lado para tratar disso de uma maneira mais assertiva”, finalizou ela.