No momento em que o governo do Estado anuncia a viabilização de uma Rota dos Vinhos, a região do Campo das Vertentes expande sua produção de vinhos finos. O enólogo da vinícola Arpuro Lucas Bueno explica que essa categoria é produzida com uvas da espécie Vitis Vinifera, de origem europeia. Já os vinhos de mesa são produzidos com uvas da espécie Viti Labrusca, de origem americana.
Os produtores do Campo das Vertentes têm apostado, justamente, na produção das bebidas finas, que, em geral, têm a preferência do público. O cultivo de uvas na região foi viabilizado pela adoção da já conhecida técnica de dupla poda, validada difundida pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) a partir de 2005.
Para quem não sabe, a técnica consiste na inversão do ciclo da videira pela realização de duas podas anuais, o que possibilita que o período de maturação e de colheita das uvas aconteça no inverno (e não mais no verão) período com menor incidência de chuvas e elevada amplitude térmica. De acordo com Bueno, quanto maior a diferença de temperatura entre o dia e a noite, maior
formação de ácidos, polifenóis, taninos e de antocianinas, substâncias responsáveis pelas cores e pela estrutura do vinho. “Além disso, elas agregam valor à bebida e permitem que o vinho posso envelhecer por mais tempo na garrafa”.
Aumento de vinícolas tem sido observado em todo o Estado
O pesquisador Paulo Márcio Norberto, que atua no Campo Experimental Risoleta Neves da Epamig, em São João del-Rei, disse que tem observado um aumento da produção em diversos municípios, com alguns produtores já estão produzindo vinhos, em Tiradentes e Ritapólis, por exemplo.
Na Unidade, onde antes havia apenas experimentos com uvas de mesa, há uma coleção de seis variedades de uvas finas tintas e brancas. “A Syrah é o carro-chefe, a mais vigorosa, a que melhor se adaptou às áreas de dupla poda e a que atrai o maior número de interessados”, conta o pesquisador.
Fernando se encantou pela atividade
Segundo Paulo, a unidade tem recebido visitantes em busca de orientação para ingressar na atividade. Um exemplo é o administrador de empresas Fernando Antônio Carvalho. O hoje vitinicultor conta que, primeiro, conheceu os vinhos finos mineiros como consumidor. “Em 2019, fui com minha esposa a um restaurante português próximo da nossa casa. Pedi um vinho chileno e o dono me sugeriu trocar por um exemplar mineiro. Fiquei surpreso: ‘vinho produzido em Minas Gerais? – ‘Sim e de excelente qualidade’. Provei e aprovei. Procurei me informar mais e fiquei conhecendo o trabalho da Epamig e a dupla poda”.
Com a pandemia e a reclusão em casa, ele pode se dedicar ao novo projeto. “Compramos uma área de dois hectares em Entre Rios de Minas, já com o intuito de plantar uvas finas. Em 2021, procurei a Unidade da Epamig na região, que fica em São João del-Rei, e conheci o Paulo Norberto, que me orientou na estruturação da área e na aquisição de mudas, além de me apresentar à equipe da Epamig em Caldas”.
“Plantamos 600 mudas de uvas Syrah. Apesar de toda a preparação, tivemos dificuldades e precisamos replantar algumas mudas no primeiro ano. Em 2023, colhemos os primeiros 80 kg de uva e produzimos 50 garrafas de vinho. A bebida, que oferecemos para alguns amigos, ficou bastante agradável. Faremos o mesmo processo com as uvas colhidas neste ano”, acrescenta Fernando.
A partir de 2025, a vinificação será feita na Epamig em Caldas. “Ser acolhido pela Epamig vai nos ajudar a evoluir tanto na estrutura, quanto nos processos”, afirma. O produtor planeja a expansão do vinhedo e a chegada dos vinhos da Quinta Dois Carvalhos ao mercado. “Para o próximo ano, pretendemos aumentar a área plantada e incluir novas variedades. Nosso vinhedo ocupa apenas 1500 metros da propriedade, temos margem para crescer. Também vamos investir na apresentação do nosso produto”.