Por Marcel Rizzo – A direção da Fifa pretende enviar uma notificação à La Liga questionando por que o protocolo contra racismo elaborado pela federação internacional não tem sido usado integralmente em casos de atos racistas no Campeonato Espanhol. O brasileiro Vinícius Junior, do Real Madrid, tem sido vítima constante de racismo em jogos da competição, fato que se repetiu neste domingo (21), em Valencia.
A Itatiaia apurou que a avaliação do presidente da Fifa, Gianni Infantino, é que a tolerância aos casos sofridos por Vini Jr. chegou ao limite. A notificação, na análise da cúpula da entidade mundial, é uma maneira de pressionar a La Liga a exigir dos árbitros a utilização por completo do protocolo de três passos, criado em 2017, em casos de cantos racistas de torcedores:
- o jogo é paralisado e avisos nos telões e alto-falantes pedem para a torcida parar com as ofensas;
- a partida para novamente, mas por mais tempo e os jogadores descem aos vestiários — novos avisos são dados;
- Caso não cessem os insultos racistas, xenófobos ou homofóbicos, o terceiro passo é encerrar definitivamente o confronto, independentemente do tempo que falta para acabar.
A avaliação na Fifa é que o que ocorre nos jogos do Real Madrid com Vini Jr. é grave e já deveria ter levado algum jogo a chegar ao passo três, ou seja, ser suspenso definitivamente. Isso facilitaria consequências punitivas ao clube mandante ou responsável pelos torcedores racistas — o que tem acontecido é que o procedimento nunca avança do passo um.
Segundo o Código de Disciplina da Fifa, uma primeira punição por atos racistas de torcedores rende ao clube jogar certo número de partidas (a definir) com portões fechados e uma multa de 20 mil fracos suíços (R$ 110 mil).
Na reincidência, a condenação pode levar a punições mais duras, como perda de pontos, eliminação de campeonato ou rebaixamento. As multas também sobem e podem passar de R$ 1 milhão. Mas caso o protocolo de três passos seja usado integralmente, e o jogo seja suspenso, a perda de pontos daquele confronto já pode ser aplicada em um primeiro momento.
Um dos argumentos da direção da La Liga é de que as Leis espanholas não permitem a ela punir aos clubes com torcedores flagrados em atos racistas, e que a entidade só pode notificar os casos às autoridades. A partir daí são essas autoridades que continuam ou não com a investigação e aí sim multam, suspendem ou aplicam penas até mais duras.
Se utilizado o protocolo que pode suspender jogos, a La Liga seria obrigada a exigir processos mais rápidos e punitivos das autoridades, já que algo terá que ser feito para resolver o caso de uma partida de futebol que não terminou por causa de insultos racistas.
A notificação será uma pressão interna, mas também haverá pressões externas. Nesta segunda-feira (22), Infantino divulgou nota oficial em que cita o protocolo antirracismo, o dos três passos. A Itatiaia apurou que citar o tema é jogar luz ao fato que a La Liga não a tem utilizado como deveria.