O médico Lucas Silva Ferreira Mattos, investigado por divulgar informações falsas sobre câncer de mama, já foi condenado por ofender e humilhar o porteiro do condomínio onde morava no Sion, bairro de alto padrão na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Em fevereiro deste ano, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais determinou que o médico indenizasse o funcionário em R$ 8 mil por danos morais.
Segundo a vítima, em dezembro de 2022, ele teria sido xingado e ameaçado por Lucas após uma toalha do médico cair no jardim. O profissional de saúde teria se referido ao porteiro com palavras de baixo calão, como “seu pobre”, “bosta”, “merda”, “você não é ninguém”, entre outras.
A Itatiaia entrou em contato com a defesa e aguarda retorno. Essa matéria será atualizada assim que houver uma resposta. O espaço segue aberto.
Envolvidos falaram à Justiça
A discussão teria começado quando o médico encontrou uma toalha que havia caído de seu apartamento em uma lixeira do prédio. Ele foi tirar satisfações com o porteiro e argumentou que era obrigação da vítima recolher e devolver as toalhas que caíssem de seu apartamento. Lucas ainda disse que jogaria propositalmente novas toalhas no jardim para que o porteiro fosse buscar. À Justiça, o funcionário contou que se sentiu humilhado e constrangido com a situação.
A defesa do médico negou que ele tenha ofendido o porteiro e afirmou que Lucas trata todos os funcionários do condomínio de maneira cordial. O médico argumentou que ao ver a toalha no lixo, foi até a portaria para perguntar o motivo. Chegando lá, ele disse ter sido desrespeitado pelo porteiro, o que ocasionou uma discussão. Lucas ainda alegou que estava sendo perseguido pela síndica do condomínio, uma vez que apenas alugava o apartamento e era não o proprietário.
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A briga foi registrada por câmeras de segurança do prédio e as imagens foram analisadas no processo. Segundo o juiz Guilherme Lima Nogueira da Silva, apesar das filmagens não conterem som, era possível ver que o médico estava exaltado o tempo todo.
O magistrado afirma que Lucas aparece nas imagens se movimentando de forma agressiva e com postura intimidadora, “visivelmente enfurecido”. No meio da discussão, o médico ainda dá um soco na parede de modo violento. Já o porteiro aparece discutindo com o autor, mas sem se alterar, mantendo uma postura profissional, de acordo com Nogueira da Silva.
À Justiça, a faxineira do prédio contou que testemunhou a discussão.
“Ele começou a apontar o dedo falando: ‘Por que você jogou a minha toalha fora?’, ‘Quem te deu autorização?’. O porteiro falou com ele: ‘Olha Lucas, eu não joguei a sua toalha fora’. E ele continuava insistindo. Ele estava tão alterado que teve um momento que eu achei que ele ia agredir o porteiro. Ele falou bastante coisa. Ele falava que o porteiro era ‘um bosta’, ‘um merda’, que ele era ‘puxa saco de síndica’, ‘um banana’, falou muita coisa…”
Para o juiz, as provas e o depoimento das testemunhas comprovaram que Lucas ofendeu o funcionário do condomínio. Na sentença, o magistrado afirmou que o médico “humilhou o porteiro, expondo-o a uma situação vexatória em seu local de trabalho, de maneira excessiva e grosseira”.
Em contato com a defesa do porteiro, o advogado Fábio Henrique Leite Costa informou que o médico recorreu da decisão. O caso segue aberto na Justiça.
Médico tem registro no CRM em Minas
Lucas Silva Ferreira Mattos tem registro no Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG). O registro de Mattos, de número 79768-MG, está ativo desde 7 de junho de 2019. Ele também possui registro de atuação no estado de São Paulo, que é sua inscrição secundária e está ativo desde maio de 2023. O médico não tem especialidade registrada em nenhum dos órgãos.
Em redes sociais, Lucas Silva Ferreira Mattos oferece cursos ‘ensinando’ a combater doenças como hipotireoidismo apenas com dietas e afirma, sem qualquer evidência científica, que os pacientes adoecem porque remédios são feitos com derivados de petróleo.
A Itatiaia entrou em contato com o CRM-MG, que informou em nota que “todas as denúncias recebidas, formais e de ofício, são apuradas, tendo o médico amplo direito de defesa e ao contraditório. Todos os procedimentos abertos correm sob sigilo, conforme previsto no Código de Processo Ético-Profissional”.
Médico é investigado por associar mamografia a câncer de mama
O médico Lucas Silva Ferreira Mattos é investigado por associar de forma enganosa o exame de mamografia ao aumento de casos de câncer de mama. O profissional tem registros ativos no Conselho Regional de Medicina de São Paulo e Minas Gerais, mas não possui especialidade médica.
Nas redes sociais, Lucas acumula mais 1,2 milhões de seguidores. Em um de seus vídeos, ele respondeu a uma pergunta sobre uma pessoa que disse ter dois cistos nos seios e que fazia acompanhamento, mas queria saber “o que poderia fazer para acabar [com os cistos]”.
“Ficar fazendo mamografia? Uma mamografia gera uma radiação para a mama equivalente a 200 raios-X. Isso aumenta a incidência de câncer de mama, por excesso de mamografia. Tenho 100% de certeza que o seu nódulo benigno é deficiência de iodo”, disse ele com base apenas na informação citada pela seguidora.
O vídeo foi encaminhado ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), que informou, por nota, que “que está investigando o caso em questão” e que as apurações tramitam sob sigilo.