A morte do jornalista Januário Laurindo Carneiro, fundador da Rede Itatiaia, completa 30 anos nesta quarta-feira (8). Januário morreu aos 66 anos, em Lagoa Santa, na Grande BH, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Era um domingo, Dia das Mães, quando o Brasil ainda chorava a morte do ídolo Ayrton Senna.
Três décadas depois, o legado de uma vida dedicada ao rádio permanece.
História
O escritor e amigo Roberto Drummond descreveu como poucos a paixão de Januário pelo rádio. “Ele bebia rádio. Ele tomava rádio no café da manhã. Ele almoçava rádio. Ele jantava rádio. Ele dormia rádio. Ele sonhava rádio e, mais do que sonhar, realizava seus sonhos”, escreveu.
Ainda quando criança, no bairro Serra, região Centro-Sul de Belo Horizonte, Januário brincava de rádio, com a fictícia “Júpiter”. O sonho de menino se tornou realidade em janeiro de 1952, quando ele fundou a Rádio Itatiaia em Nova Lima, na Grande BH.
Anos depois, Januário reconheceu que a emissora ficou maior que o sonho.
“Se formos fazer um balanço, chegaremos à conclusão de que as coisas que nós desejávamos que acontecessem aconteceram. E lhes confesso algo muito mais profundo e muito mais importante: a estação ficou muito maior que o sonho, e o sonho era pretensioso. Nós queríamos uma estação independente e a fizemos. Como hoje está gravado na entrada da nossa casa, uma estação que vendesse espaço, como todas as outras, mas que não vendesse opinião, como poucas das outras”.
Januário Carneiro, fundador da Itatiaia
Legado
A influência de Januário Carneiro ainda é sentida tanto por diversas gerações de jornalistas, quanto por todos que acompanham, atualmente, um rádio moderno, conectado, presente em tempo real nos principais fatos e que tem a marca do seu fundador.
Ex-presidente da Itatiaia, Emanuel Carneiro destaca o pioneirismo do irmão. “Ele estabeleceu, de forma muito clara, eventos que a Itatiaia poderia cobrir e valores que a Itatiaia poderia cobrir. E isso deu à emissora uma credibilidade muito grande junto ao público. Isenção e imparcialidade. O Januário foi o comandante de tudo isso. E foi mestre e professor de muitos profissionais. Ele revelou muitos talentos e colocou a Itatiaia não apenas como uma emissora de rádio local, mas a Itatiaia se transformou em uma emissora via satélite, apostando, desde o início, na internet e em tudo aquilo que chegava de novidade. Ele (Januário) levantava o dedo e dizia: ‘isso é comigo’”, conta Emanuel, lembrando da paixão de Januário pelo Villa Nova, clube da cidade onde a rádio foi fundada.
Emanuel cita ainda o pioneirismo de Januário nas transmissões esportivas internacionais, como Copa do Mundo, Olimpíadas e competições disputados por clubes de Minas. “Ele deu ao rádio de Minas Gerais, através da Itatiaia, uma dimensão muito grande com aquela frase ‘nós abrimos para o rádio de Minas os caminhos de todos os continentes’. Isso é uma verdade absoluta”, destacou.
O empresário Rubens Menin, presidente do Conselho de Administração da Itatiaia, revelou que a emissora está presente em sua vida desde criança. “Januário Carneiro foi grande empreendedor, jornalista e precursor de tudo. Infelizmente, ele não está mais junto com a gente, mas sua obra ficou e isso é o mais importante. Januário foi um craque, um precursor e é sempre bom lembrar das pessoas que fizeram algo diferente”, celebrou.
Visionário
Diogo Gonçalves, presidente da Itatiaia, classifica Januário como um visionário da comunicação do Brasil. “Ele foi além das expectativas da sua época, antecipando tendências e estabelecendo um legado duradouro. Sua voz não transmitia apenas informações, mas também inspirava e cativava a audiências. Hoje, como presidente da rádio que ele fundou, meu maior desafio é honrar e preservar o seu legado. Que o dedo de Deus continue a nos guiar enquanto enfrentamos dos desafios da mídia moderna”.
João Vitor Xavier, vice-presidente de Operações da Itatiaia, destaca que Januário abriu espaço no jornalismo para demandas do povo, uma das marcas da emisssora. “Januário era um gênio da raça, alguém muito à frente do seu tempo. Foi alguém que, nos anos 50, conseguiu entender que o rádio seria um veículo muito além do lazer, muito além do entretenimento. Ele conseguiu enxergar o rádio como uma peça fundamental no dia-a-dia das pessoas e que fizesse parte do cotidiano da prestação de serviços. Ele conseguiu enxergar uma rádio que estivesse no posto de saúde, ao lado do paciente que não estava sendo atendido; que estivesse na escola pública que não está tendo vaga para os filhos; que estivesse na estrada, ao lado do motorista que não tem a qualidade necessária no trânsito; que tivesse no ponto de ônibus ou na estação, ao lado passageiro que precisa de um melhor serviço público”, ressaltou.
(Com produção e reportagem de Ana Novato, Jacqueline Moura, Rômulo Ávila, Edson Costa e Arthur William)