Estado de Roraima é a principal porta de entrada dos venezuelanos.
Apesar dos mais de cinco mil quilômetros que separam a fronteira e Juiz de Fora, a cidade da Zona da Mata já conta coma presença de imigrantes.
Sérgio Maurício Gonçalves Franco, é um deles. Português, há três anos cruzou o oceano atlântico com seus familiares até a Venezuela em busca de melhores condições.
Aos 22 anos, no auge da crise no país, onde amanhecer e dormir com medo virou rotina, o jovem se viu obrigado a batalhar uma segunda tentativa de vida melhor, no Brasil. Com o equivalente a R$ 140 no bolso e sujeito a passar fome e sede, Sérgio cruzou a fronteira e o caminho de uma associação de Juiz de Fora, que o acolheu.
Primeiro o jovem atravessou a fronteira com o irmão, deixando a mãe e o outro irmão na Venezuela. Ele não sabia o que fazer, até que uma senhora emprestou um quarto por alguns dias. Mas na segunda semana, já não tinha onde mais dormir e nem o que comer em Boa Vista. Então, Sérgio decidiu procurar o Consulado Português, e ele teve que escolher entre ficar no Brasil ou voltar a Portugal.
A decisão foi permanecer no Brasil, já que iria enfrentar a mesma situação em sua terra natal. Segundo ele, o acolhimento no Brasil é bem melhor. Sem ter para onde ir, ele foi encaminhado para Juiz de Fora através de um projeto social.
As vidas de Sérgio e a do pesquisador da área de enfrentamento à pobreza Renato Lopes, se encontraram. Renato é diretor da Associação dos Amigos, que administra a Casa Benjamin (Aban), instituição que inicialmente receberia refugiados da guerra na síria, mas questões burocráticas atrapalharam o processo.
Além disso, ele atua também em projetos de proteção à vida na Amazônia, por meio da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam). Em contato com a situação caótica na Venezuela e os resultados no estado de Roraima, Renato tomou a decisão de buscar parcerias para abrigar os venezuelanos.
O primeiro grupo, chegou a cidade mineira em outubro do ano passado. No total, 18 já estão no processo de ressociabilidade. A meta da casa, a partir de agora, é de acolher três imigrantes por mês. No momento, apenas um permanece na casa, já os outros 17 cumpriram o processo de três meses de ciclo para recomeçar a vida.
O projeto se organiza em três ações. A primeira oferece alimentação, moradia e artigos de higiene e limpeza. A segunda, uma equipe orienta sobre documentação, informações de serviços na cidade e encaminhamento para emprego. E a terceira etapa, e mais complexa, é o acompanhamento emocional.
A casa tem capacidade de receber três venezuelanos por mês.
Sérgio, que em Roraima foi vítima de xenofobia – uma aversão aos estrangeiros – ainda mantém a esperança de que o mundo se torne um lugar melhor. Se há poucos meses ele precisou acolhimento, hoje, é ele quem acolhe, ao prestar serviço voluntário à Casa Benjamin. Para ele, é preciso dar valor às pessoas e deixar o apego aos bens materiais.
Por enquanto, os dezoito imigrantes enfrentam a cada dia uma jornada desta luta e começa a surgir uma luz no fim do túnel.
Renato conta que sua família passou pela mesma situação no início do século passado, quando deixou a Europa. “Eu sou descendente de imigrantes, eu fui acolhido aqui neste país. No fundo, todos nós somos imigrantes. Quem sou para dizer que eu não quero receber os imigrantes”, Conclui.
Interessados em ajudar podem obter informações pelo site aban.gov.br.
Ouça a reportagem na íntegra, com Weyder Ferreira.