Milton Nascimento completa 80 anos como ‘voz de Deus’ da música brasileira

Por Raphael Vidigal

A voz de Deus. Foi assim que Elis Regina definiu a voz de um dos maiores cantores da música brasileira. Para muitos, o maior de todos os tempos. Afinal de contas, não é qualquer um que recebe um elogio desse porte, ainda mais de Elis Regina.

Também conhecido como o mais mineiro de todos os cariocas, Milton Nascimento nasceu há 80 anos no Rio de Janeiro, mas foi criado em Três Pontas, no interior de Minas Gerais. Ele foi adotado após a morte da mãe, vítima de tuberculose quando ele tinha apenas dois anos de idade.

Bituca

Ainda criança, ganhou o apelido que carregaria por toda a vida: “Bituca”, em razão das manhas que fazia quando contrariado.

A música entrou em sua vida por influência da mãe, que estudou com o maestro Heitor Villa-Lobos. Aos quatro anos de idade, Milton ganhou a sua primeira sanfona, e, aos 13, já cantava em conjuntos de baile da cidade.

A voz celestial não demorou a chamar a atenção. Vizinho de Wagner Tiso em Três Pontas, Milton se mudou para Belo Horizonte e conheceu a turma com quem formaria o histórico Clube da Esquina, movimento que abalou as estruturas da música brasileira com sua mistura única de canção barroca e influências estrangeiras, notadamente dos Beatles.

Em 1972, há 50 anos, gravou, com as presenças de Toninho Horta, Lô Borges, Beto Guedes, Nelson Angelo, Wagner Tiso, e letras de Fernando Brant, Márcio Borges e Ronaldo Bastos, o álbum que transformou em clássicas músicas como “Cais”, “O Trem Azul”, “Nada Será Como Antes” e “Paisagem da Janela”.

Antes, em 1967, Milton tirou o segundo lugar no Festival Internacional da Canção com “Travessia”, música de sua autoria com Fernando Brant. Tímido, o compositor foi inscrito no festival à revelia, por iniciativa do cantor e amigo Agostinho dos Santos. O primeiro disco lançado veio no mesmo ano.

Além de intérprete fora de série, Milton passou a chamar a atenção também como compositor, tendo suas canções gravadas por Nana Caymmi, Caetano Veloso, Simone, Wilson Simonal, e, principalmente, Elis Regina, que registrou gravações antológicas para “Maria, Maria”, “Fé Cega, Faca Amolada”, “Caxangá”, “Nos Bailes da Vida”, dentre muitas outras.

Afetado por problemas cardíacos e diabetes que o perseguiram nos últimos anos, Milton anunciou uma turnê de despedida dos palcos, intitulada “A Última Sessão de Música”, que chega a Belo Horizonte no próximo dia 13 de novembro, no estádio do Mineirão. Fato é que a voz de Deus continuará ecoando em nossos corações.

foto: Augusto Nascimento