A revelação da cantora Iza sobre ter sido traída pelo namorado, o jogador do Mirassol Yuri Lima, gerou revolta nas redes sociais. Um agravante foi o fato de a artista estar grávida do atleta.
No entanto, ela não é a primeira esposa ou companheira, nem mesmo entre as celebridades, a ser traída durante a gestação. Casos como o de Neymar e a ex-companheira, Bruna Biancardi, mãe da primeira filha do jogador, também vieram a tona recentemente.
Se mulheres também traem, o que esse episódio revela sobre a nossa sociedade e as motivações e justificativas delas e deles para esse comportamento? A Itatiaia conversou com a psicanalista Natália Marques e com a socióloga e professora Mônica Barros para compreender esse fenômeno.
‘Momento de fraqueza’
Horas depois do exposed de Iza sobre o então namorado, o jogador se pronunciou sobre a acusação de traição. Ele admitiu a culpa, dizendo que “fez m*** em um momento de fraqueza”. Para a socióloga Mônica Barros, a fala passa a impressão de que foi algo pouco grave. “Ao chamar de fraqueza, ele considera que poderia ter acontecido com qualquer pessoa; como algo de menor importância e, portanto, pelo qual poderá ser desculpado”, disse a socióloga. Além disso, para “se defender”, a especialista aponta como Yuri desqualifica a mulher com quem estava: “Quase dizendo que foi ela quem provocou o seu momento ‘de fraqueza”, afirmou Mônica.
A psicóloga Natália Marques, por sua vez, ressaltou como a sociedade normaliza esse tipo de comportamento, quando vindo dos homens, atribuindo a algo do “instinto masculino”. “Não existe comprovação que diga que homens traem porque têm algo genético, algo do cérebro. Isso não existe. Isso acontece devido à socialização”, explicou.
‘Até a Iza’?
Nas redes sociais, muitas pessoas comentaram o absurdo que seria alguém como a Iza — bonita, símbolo sexual, rica, bem sucedida— ser traída.
Segundo a psicanalista Natália Marques, a masculinidade, em nossa sociedade patriarcal, é baseada em ter o poder na relação. “Quando um homem se relaciona com uma mulher que tem poder — ou seja, que não depende dele e está se sentindo feliz consigo —, muitas vezes, fica uma ferida nele e, por isso, tentará minar essa mulher”, explicou Natália.
De toda maneira, esse tipo de comentário, segundo a psicanalista, não é adequado. “Se essa mulher é quem não pode ser traída, a gente entende que as que não têm esse padrão podem. De certa forma, é quase que uma justificativa”, avaliou.
Ela também chama a atenção para a responsabilidade de colocar outra mulher como “pivô” do rompimento. “Esse termo é também muito problemático porque, quando a gente fala ‘pivô’ da traição, está falando sobre uma mulher que foi a responsável pela traição acontecer: ela seduziu aquele homem. Essa é uma visão muito retrógrada, em que a gente desresponsabiliza os homens”, analisou a psicanalista.
E as mulheres? Não traem?
Conforme Natália, que homens e mulheres eles vão cometer traições é um fato. “Todo mundo trai. Há traições dentro de outras relações como amizade, familiares, profissionais… Também há traições nas relações não-monogâmicas, em que existem combinados, etc.”
O que chama atenção, segundo ela, são os efeitos dessa traição na vida de cada um. A socióloga explica que o senso comum tem expectativas diferentes sobre o comportamento de homens e mulheres. “Há julgamentos morais distintos”, disse. A psicanalista explica que, se um homem trai a mulher com quem está se relacionando, além de corresponder ao esperado socialmente (ou seja, a crença sem fundamentos de que homens traem “por natureza”), é atribuída à mulher a “culpa” por não conseguir “prender” o seu companheiro. “A mulher não era boa o suficiente para manter o homem interessado nela. É como se faltassem atributos à mulher e por isso, o homem saiu em novas conquistas”, disse.
Por outro lado, conforme explica a socióloga Mônica Barros, quando uma mulher trai o homem com o qual está se relacionando, ela é quem é desqualificada moralmente, vista como indecente, vulgar, promíscua. “Para as mulheres não há ‘desculpa’, visto que a expectativa social é de que os relacionamentos sejam o auge da realização feminina”, disse.
Para ela, o peso da traição recai mais fortemente sobre as mulheres. “Não se espera que ela traia, ao contrário da expectativa em relação aos homens. Quando o homem trai, parte da ‘culpa’ é da mulher, que não soube satisfazê-lo. Se a mulher trai, ela é promíscua. Já o homem não é julgado.”